quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Amores Impossíveis
Ah, os amores impossíveis. Parece que a comunidade neurótica não consegue escapar desta tentação. Antes de me chamarem de pessimista ou desiludido, uma nota a meu favor: por amores impossíveis, estou chamando aquilo que está no âmbito na fixação no/do sintoma, não as belas narrativas shakespearianas, trágicas, por isso mesmo belas.
A neurose descrita por Freud e seus continuadores, refere-se, entre outras coisas, ao gosto pelo pecado da preguiça. Ao neurótico sobram dúvidas e faltam as certezas necessárias para o movimento. Isso é endêmico, constituinte e, portanto, uma daquelas coisas que se aprende, no máximo, a lidar.
A clínica nos mostra cotidianamente esta fixação. O amor impossível por um homem ou mulher prende a atenção neurótica. (lembre-se, neurose é a estrutura da dúvida, do horror às certezas) por uma razão econômica: é mais fácil estar às voltas com alguém que não lhe dá a mínima, que não lhe trata bem, que é indiferente a sua presença, que não corresponde às suas investidas, que é detestável. Quais são as chances de dar errado? Todas, já deu. Eis um posicionamento tipicamente neurótico: 1) colocar-se repetidas vezes em barcos furados; 2) culpa-los por seus furos.
A consciência neurótica é resistente à lógica, ao bom senso, à razão. Claro, como poderia ser diferente se mantemos relações incestuosas com nossos pecados, se amamos-lhes? Amor é um conceito caro à psicanálise, serviu de inspiração central na edificação teórica freudiana, que nos ofertou duas conotações distintas sobre o tema: amor como pathos e como ethos. A primeira modalidade (pathos) é matéria de nossa ruína certa: amamos nossos pecados. A segunda (ethos) é matéria de uma solução possível para os impasses inexoráveis do desejo. Trata-se de uma solução ética para nossas tendências. Por solução não entendam “o que preciso fazer para ser feliz”. Aliás, em matéria de felicidade, o compromisso neurótico com pathos, mostra-se mais favorável. Em ethos, a felicidade é incerta –para não dizer improvável- mas o tédio também o é.
Sobre a felicidade em Freud, vale lembrar as palavras do sábio mestre em "Estudos de Histeria" de 1896. Neste texto, encontramos uma frase que revela muito da sensibilidade freudiana sobre as possibilidades humanas. Freud proclama que o intento de sua prática não seria outro senão transformar a miséria neurótica em infelicidade humana ordinária.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário