sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sobre vício e outras drogas

“ A vida nos ensina que é preciso coragem para suportar o desespero, e também que o desespero as vezes pode dar coragem” André Comte-Sponville.

Fato curioso esse do vício de alguns.
Freud ja dizia da impossibilidade das sociedades humanas viverem sem mecanismos de escape para alterar a consciência frente ao intrínseco mal estar em que somos acometidos. Enfrentar a realidade o tempo todo sem nenhum mecanismo de fuga? Impossível. Mas mesmo que nossa cultura viabilize prazeres a qualquer custo e ideais ligados á satisfação e felicidade (muitos mecanismos de fuga podem ser comprados), é impossível viver sem dor.

Dor de amor, de perder alguém, de apostar em algo que não virou, de injustiça social, dor de indignação: basta estar vivo. Muitas pessoas enfrentam, da forma que lhe forem alcançáveis, normalmente aos trancos, a falta de garantia incômoda de seguir recomeçando, construindo, tropeçando. Outras não conseguem sem a condição de alterar seu estado: exageram em álcool, drogas, comida, estética, jogos, esporte, entre outros- Entre muitos outros que entram no exagerado hábito da repetição que gera prejuízo, que numa linha curta de tempo, sem querer transforma o prazer da experiência que o escape comedido proporciona, em uma necessidade de estar com a percepção alterada o tempo todo. É nessa que o sujeito é engolido pelo vício que não mede limite, que ultrapassa o possível, que beira a morte. Do sedutor estado que o escape proporciona, vive-se então só nele, anulando o sujeito que, amortecido, não reage, não resolve, não deseja.

Vale a pena parar e pensar do que se trata esse apego desesperado que muitas vezes conduz ao fracasso.

Na clínica psicanalítica, a estratégia da proibição é a menos eficiente. O espaço traz a possibilidade do retorno do sujeito, aquele que foi engolido, que foi retirado de laços sociais, das representações, de compromissos, porque entrou num estado de onipotência, de alienação, mas quem é que vive nisso por muito tempo? A psicanálise aposta na responsabilidade de escolhas. No lidar com faltas. Há de se descobrir o porquê do insuportável de suportar o real, da necessidade urgente que a sensação de prazer pede, pedido feito por uma ânsia de entrar no estado em que não se pensa, não sente falta, que disfarça a dor, como se assim fosse possível matar a angústia, que claro, volta de uma forma avassaladora, sustentando cada vez mais o vício, já que não se entra em contato com a causa. Cada vício diz respeito a uma angústia mal dita.

Significar a vida é uma tarefa árdua. Ainda mais porque é preciso resignifica-la a todo instante. A quem é que não falta algo? E o que fazer com isso? Não se trata de deixar de ter prazer, mas de desfrutá-lo de uma forma melhor. Um prazer comedido, dominado, que não te faz escravo de um objeto de satisfação. É necessário cultivar prazeres de liberdade, para não se aprisionar em sua própria fraqueza. Sim, vivemos tratando de tornar a realidade mais fácil, suportável, a nosso favor. Então é preciso respeitar os limites-  nada mais sensato do que saber de si para poder ser livre.

Livia Lemos.

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