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Não há nada melhor do que deixar para amanhã aquilo que deveríamos fazer hoje, não é mesmo? Cotidianamente, fazemos diversos projetos magníficos para nós mesmos, em nossa imaginação, e neles gozamos. Contudo, ironicamente, colocá-los em prática, aos poucos -"Roma não foi construída em um dia"- nos cansa. Detestamos os meios, as pequenas coisinhas necessárias para chegarmos a imagem que demoramos meio minuto para conceber.
Ao nos cansarmos nessas pequenas tarefas necessárias, nos frustramos e vamos fazer qualquer outra coisa: assistir televisão, atuar no facebook, dormir, etc. O projeto, ainda sim, continua firme em nossa imaginação, e ainda gozamos ao pensar nele.
Se formos analisar, perceberemos que o atual projeto de nós mesmos detém semelhanças com outros projetos que outrora já concebemos. Estes, foram esquecidos, dariam muito trabalho, e diante das dificuldades acabamos por abandoná-los, passamos um período "de bode" e logo voltamos a erguer novos castelos para servir de refúgio a nossos desejos ocultos. Naturalmente, estes serão vencidos pelas dificuldades e serão deixados de lado. Trata-se de um mecanismo que contempla uma dupla repetição: erguer castelos para lá nos refugiarmos (ou o nosso desejo, como queiram) para, em seguida, abandoná-los quando eles se tornam chatos, repetitivos, pouco animados.
O grande texto seria aquele que não tive saco de escrever; a grande música foi aquela que não tive paciência de desenvolver; o grande relacionamento foi aquele que não tive coragem de arriscar. Há uma repetição aí: eu sempre sou aquilo que não pude ser. Por que não?
Parece que há um prazer na estagnação, desde que ela não seja percebida como tal. Temos um prazer inenarrável ao compor sonhos em nossa imaginação, e aí gozamos -daí a metáfora do castelo que serve de refúgio do desejo. Há uma aparente aversão à realização desses desejos: "o que acontece depois que minha fantasia se realiza?". Daí, diante desse temor ficamos paralisados em vidas pouco vividas e bastante pensadas. Claro, que também encontramos um grande prazer em eleger culpados para nossos fracassos. De bate-pronto: a falta de tempo, as pessoas que não colaboram, os pais, namoradas(os), etc.
Se o Brasil é o país do futuro, como gostamos de dizer, nós somos uma eterna possibilidade, dificilmente uma realização. Isso é um problema? Depende. Se entendermos que, o que faz da vida algo interessante é a diversidade de experiências, a auto permissibilidade que nos concedemos para encarar as consequências de vivermos nossos desejos (o que implica aceitar os sofrimentos brutais que isso, também, traz ) acho que se trata de um problema, pois nos contentarmos com o avesso disso, é nos curvarmos para o medo de encontrarmos nosso desejo.
Há uma lei da natureza: "Tudo é constante mudança". Se não a aceitamos, somos imediatamente punidos, se a acolhemos, somos imediatamente recompensados.
ResponderExcluirUma Lei da Natureza humana ou da "mãe natureza"?
ResponderExcluir"Mãe Natureza" e consequentemente Natureza Humana.
ResponderExcluirPoxa, vc deu uma Pondé-rada (kkkk não gosto dele) no último paragrafo.
ResponderExcluirUma ponderada séria, esse "adiar" é preguiça? É fruto de um juízo errado (inflacionado)? Ou adiamos poque não existem condições objetivas para realizarmos nossos projetos (visto que não é pouco o tempo que GASTAMOS em atividades compulsórias)?
Gostei da proposição "eu sempre sou aquilo que não pude ser".
Outra ponderação, seria pensar o papel da razão. É importante valorizar a capacidade de julgar e racionalizar, considero que essas capacidades definem a força do ego e de toda pique.
Olá Angelo e Paulo,
ResponderExcluirConcordo com o Angelo que deva haver ponderação (!) ao depositar somente nas condições subjetivas as causas do adiamento, da fuga do desejo. Até porque, hoje em dia o que não se permite mais adiar, no mundo do imperativo do gozo, é a satisfação dos indivíduos - satisfação, porém, alienada do desejo, porque produzida "sob-medida". Se não goza, o indivíduo sente-se culpado, encontra então satisfação no espetáculo, nas mercadorias, nos produtos "feitos pra você", e sem perceber submete-se a algo que diz saber mais do seu próprio desejo que ele mesmo (é só assistir meia dúzia de peças publicitárias para verificar isso). Assim aliena-se de seu próprio desejo, adiando-o indefinidamente.
Abraços