segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nota Sobre as Mulheres

“Ahh, as mulheres...” dizia um grande amigo meu. E com razão. Se tem alguém que tem o dom de conquistar e amar, desconstruir e enlouquecer, são elas. Tão doces, tão amargas, tão espetaculares quanto destruidoras. Trata-se apenas de uma questão de posicionamento. Ou de tempo.
Acontece que as mulheres atuais, tão independentes, tão completas, se bastam tanto que são loucas para ser dependentes de um homem. Santa ironia! Reclamam que eles estão em falta, que eles faltam, mas sequer não sabem agir frente a um, porque não sabem ao menos pedir o que querem pela pressa, em ser, simplesmente mulher de um homem, antes mesmo de ser mulher- antes mesmo de construir uma identidade, um estilo de vida, uma história, uma profissão satisfatória, uma aposta de como se quer viver- para apostar tudo em ser desejante, perfeita, ideal para o outro.
E para um outro que nem se sabe quem é! Porque o pedido vai numa direção única: “me deseje”. Sem conquista, sem história. E aí, é claro, cria amores ensurdecedores, finge amar alguém impossível de ser amado: uma história teatral de amor. E depois de fazer tudo errado, se pergunta: “ Como assim ele não me ama? Mas eu sou tudo o que ele precisa! ”- e depois percebe que o outro não tem nada a dizer sobre quem se é, já que ele só pode devolver-lhe o efeito do seu pedido louco. E a mulher sai fora, dizendo que não lhe cabe aquele homem porque não era nada do que se pensava. Claro que não! Porque os homens deveriam saber sobre nós? Nada mais sensato estar a saber sobre si para não esperar que o homem assim nos fale. Sim, nós o intimidamos. Porque esse lugar de mulherzinha não se presta mesmo. Devemos nos abster das estratégias de amor idealizada para viver numa realidade que tanto dizemos que buscamos. Sem errar no pedido. Sabendo o que se quer, sendo mulher, primeiro. Se se quiser um homem da altura.

2 comentários:

  1. Lívia,

    A psicanálise, em especial a de Lacan, nos traz um postulado que, dependendo de como for entendido pode produzir uma certa depressão ou uma certa maturidade. O postulado fala sobre o que você chamou de "amores ensurdecedores". Esse Outro, que na verdade nem se sabe quem é, é a chave do postulado sobre o amor, seu tempero é o narcisismo. O Outro é aquele que nos deseja, pronto. E quem é esse Outro? O depositário de nossos ideais. Funciona assim: projetamos na imagem de algum Outro, a quem supostamente amamos, nossos ideais, e a condição para o Outro estar conosco é que ele assuma esse ideal. Como é bom sermos amados por nosso próprio ideal, isso, sem dúvidas, traz felicidade. O problema? Bem, o problema é que se trata de uma operação em curto cicuito -Eu e meu Ideal- em que o Outro na verdade nem é tão importante assim.

    Em outras palavras, não existe relação sexual na medida em que se trata de uma relação narcísica, cada um se relacionando com suas prórpias fantasias. O gozo está na onipotência que isso traz. O sofrimento está na constante iminência da sobriedade. Temos um diabinho constantemente assoviando em nossos ouvidos que não somos assim tão desejados porque, se quer, aparecemos para nossos outros.

    Gostei do texto.

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  2. " Se a necessidade que alguem tem de amar não é inteiramente satisfeita pela realidade, ele esta fadado a aproximar-se de cada nova pessoa que encontra com idéias libidinais antecipadas "(Freud, 1912).
    Sim Paulo. Procurar a outra metade(minha)faz parte desse jogo de ideal (próprio). Alguma metade que projete a minha cara. E por que nao ser inteiro para se haver com outro inteiro?

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