
Não há tema em que se mente mais do que sexo. Mente-se porque o sexo e, sobretudo, o que nele está envolvido ainda é um grande tabu social. Desculpem-me os que acham que nunca fomos tão libertos, que as pessoas nunca transaram tanto, etc. Adianto que as pessoas não transam tanto quanto falam e, ainda que transem, também não gozam tanto assim. Homens e mulheres mentem sobre sexo de formas muito diferentes. Em geral, o homem mente aumentando e a mulher diminuindo.
Mas, e os deveres conjugais? Bem, em nossa cultura as relações de um casal são pautadas em rituais que não fogem muito a alguns costumes estabelecidos. Em suma deve-se ter cumplicidade, amor e, de preferência muito sexo. Freud –pai da psicanálise- serviu de inspiração para Lacan –psicanalista francês- quando este pronunciou a máxima “Não existe relação sexual” quando lançou mão da metáfora do encontro de porcos espinhos do filósofo Schopenhauer, século XIX
Nessa metáfora sobre a impossibilidade do encontro absoluto, dois porcos espinhos expostos a um frio de rachar se aproximam um do outro para se aquecer. Passado o frio avassalador, eles notam o quanto se feriram mutuamente e aprendem que não podem se aproximar tanto, mesmo que a idéia pareça atrativa.
Trazendo isso para nossas vidas, principalmente para a vida conjugal, chega-se as seguintes perguntas: Num jogo erótico vale tudo? A que condições um homem ou uma mulher podem (ou querem) acompanhar seus parceiros em suas fantasias?
A clínica psicológica nos mostra que muitas pessoas aparentemente “normais” –entenda: bem casadas, realizadas profissionalmente, etc- se sentem sozinhas, tristes e, em suma, insatisfeitas com seus relacionamentos. A OMS (Organização Mundial de Saúde) num relatório feito em 2007 apontou o crescimento da depressão na população mundial, dizendo que, provavelmente, seria um dos principais males do século XXI. Lacan, em mais uma de suas famosas e polêmicas frases disse certa vez que “Depressão é covardia moral”, ou seja, significa o recuo diante do desejo. Mas por que recuaríamos diante do desejo?
Nesse ponto a psicanálise pode nos ajudar bastante. Em uma análise estimula-se o paciente a reconhecer seu próprio desejo (Reconhecimento de Desejo) mas isso acarreta um efeito, o desejo reconhecido precisa ser reconhecido por algum outro amado (Desejo de Reconhecimento). Mas o que isso tudo tem a ver com os deveres conjugais?
Resumo da ópera: 1)O que define a subjetividade é o conflito. Desconfie de pessoas sem conflitos, pois, muito provavelmente, ela “resolveu” suas confusões íntimas desistindo de suas fantasias, desejos e sonhos; 2) Num relacionamento, amar é um exercício constante, quase um trabalho. Deve-se estar atento ao outro, e estar apto a reinventar o relacionamento para que ele não engesse seus protagonistas em identidades sexuais pouco plásticas. Num jogo erótico vale tudo? Vale tudo o que eu aguento. E se aquilo que não aguento no meu parceiro for insustentável, devo repensar se o amo, de fato; 3) Os deveres conjugais –que certamente irão continuar existindo- podem, portanto, servir para engessar a relação se não permitirem que o casal explore as múltiplas identidades um do outro, ou para manter vivo o perigoso desafio de conhecer a pessoa que está ao seu lado. Garanto que nessa opção, você poderá sofrer de muitas coisas, menos daquilo que Lacan chamou depressão.
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