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Então começa a épica ousadia freudiana ao tentar implementar as recém descobertas charcotianas e breuerianas no hospital geral em que trabalhava. Naturalmente, seu algoz e chefe, o professor Meynert, se colocou como um empecilho.
Aos 30 anos, o jovem Freud tinha que fazer um escolha. Poderia ter se tornado um emérito médico de Viena, ter sua própria carruagem, fortuna , status social, em suma ser mais um burguês emergente da alta sociedade, construindo sua reputação com médico de confiança. Mas Freud estava inclinado para a pesquisa, estava instigado pelo desafio cientifico genuíno (algo que, diga-se de passagem, nunca foi tarefa fácil para ninguém que levou Ciência a sério). Nada havia lhe impressionado mais que as aulas demonstrativas de Charcot, e ninguém havia lhe sido tão acolhedor, compreensivo e inspirador como Breuer.
O professor Meynert ordenou a Freud para que parasse com seus procedimentos de hipnose no hospital. Para ele, Freud havia abandonado a ciência no dia em que decidiu ir à Paris, assistir as aulas de Charcot. Meynert entendia que tanto Charcot quanto Freud estavam tentando fazer algo muito perigoso, e tudo porque, no fundo ambos eram obcecados pela loucura, que segundo ele, deveria se manter trancafiada nos porões da humanidade, que nada nem ninguém deveria lançar luz sobre alago que sempre fora domínio das trevas.
Meynert fazia experimentos com escorpiões mexicanos, animais extremamente sensíveis à luz do sol, fogem da luminosidade, se escondem nas trevas. Ele dizia que o que Freud estava supondo –lançar luz sobre aquilo que até então ninguém havia ousado- não mataria o mal, as trevas do espírito dos atormentados pelas mais diversas afecções da alma. Tudo o que Freud conseguiria fazer seria abrir as celas de onde tal mal estava confinado, sem poder exercer nenhum efeito sobre ele, pois não haveria nada que pudesse aplacá-lo. Este mal só viveria para dar conta de seus próprios interesses, que não tinham nada a ver com a ordem civilizatória estabelecida. Em suma, Meynert entendia (com razão) que Freud estava prestes a fazer algo que provocaria ecos absolutamente imprevisíveis e que, no fundo, ele se interessava tanto pela loucura para não se haver com a sua própria.
Por sorte, Freud tinha em Breuer alguém disposto a lhe ajudar. Breuer iria enviar a Freud todos os seus pacientes histéricos, e lhe pagaria pelo trabalho prestado o valor de 200 florins. Breuer sentia-se em débito com o espirito cientifico, que também lhe atraia, mas que denegou em pró da carreira médica e de uma vida burguesa bem estabelecida. Assim, fez-se os moldes da união fundamental para a gênese da Psicanálise.
Muito bom!
ResponderExcluirObrigado. Leu todas as partes?
ResponderExcluirabç.
Ainda não li tudo, mas vou ler! Cheguei ao blog porque estava procurando exatamente o trecho do filme "Freud além da alma", em que Meynert abre a caixa com os escorpiões... Pra mim, um trecho muito especial e que poucos exploram.
ResponderExcluirGostei do estilo da escrita!