sábado, 11 de fevereiro de 2012

Sexualidade: o axioma psicanalítico (parte 1)


É costumeiro o comentário “para o psicanalista, tudo é sexual...”. Diante desta acepção amplamente difundida no imaginário social acerca da psicanálise, vejo espaço para um esclarecimento sobre o conceito. Vou tentar remontar ao longo de alguns posts a história que fez Freud chegar a esta noção.

Para começar, uma célebre e polêmica frase de Freud (tanto no passado quanto hoje) “A etiologia das neuroses é sexual”. Esta frase foi proferida em uma época de triunfalismo e crise do saber psiquiátrico –colocado em cheque diante de fenômenos como, por exemplo, a histeria- cujo entendimento etiológico reinante eram dois: simulação teatral (Babinsky) ou afecção neurológica (Charcot).

Freud, desconfiava dessas teses, e acreditava estar diante de um tipo de afecção que colocava um claro problema ao pensamento médico e consequentemente ao método anátomo-clínico. No filme “Freud além da alma” há uma cena que ilustra bem este impasse. Freud acompanha uma explanação sobre uma paciente histérica (com sintomas de conversão física, a saber cegueira e paralisia nas pernas) proferida por seu professor, cujo entendimento sobre o fenômeno permitia-lhe dizer que “ Esta mulher diz sofrer paralisia da perna esquerda, mas numa paralisia real a perna não estaria tão rígida. Está paralítica está fazendo uma exibição mais apropriada ao teatro popular. Seus sintomas foram deliberadamente assumidos com o objetivo de atrair atenção, causar pena e fugir das responsabilidades. Quanto à cegueira, um fósforo -ele pega um fósforo e acende próximo aos olhos da paciente. As pupilas se contraem, alguém cego não faria isso.” Neste ponto, Freud pede permissão para fazer um outro teste. Saca do bolso uma agulha e atravessa a pele da perna da paciente que não demonstra reação alguma, o que demonstrava não se tratar de simulação teatral. Diante do teste, o professor fica desmoralizado e escapa pela tangente explicando que a ausência de reação era consequência da dormência na região causada pela ausência de movimentação.

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