quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sexualidade: o axioma psicanalítico (parte 4)


Breuer descreveu a Freud os sintomas de Cecily. Segundo ele a paciente encontrava-se semiparalisada, com a visão um pouco distorcida e com um quadro de hidrofobia (não conseguia beber água). Cecily acreditava que a água era suja, cheia de maldade.

Quando Breuer perguntava o que lhe fazia pensar que a água era suja, Cecily respondia que seu pai havia lhe dito isso em Nápoles. Breuer conta a Freud sobre “o choque com a realidade” que ele promoveu ao dizer que naquele momento, eles estavam em Viena e de que ela bebia água até poucos dias atrás.

Hipnotizada Cecily foi questionada sobre a aversão de beber água. Imediatamente, ela se lembra do animal imundo, com língua negra e longa. Ela se lembrou de que era um cão, seu cão: Schnaap. Ela também se lembrou de uma cena em que o cão estava sobre sua cama, tomando seu chá em sua xícara, de que o cão estava esvaziando a xícara que seu pai havia lhe dado. Na cena também havia uma enfermeira, por quem Cecily demonstrava certa raiva, pois havia sido ela quem permitira Schnaap fazer o que fez.A partir desse evento, Cecily passou a odiar as enfermeiras.

Contudo, ainda que sob efeitos de hipnose, ao falar sobre isso a paciente voltou a sentir sede e termina esta sessão bebendo um copo de água, algo que no início seria impensável (ao menos, por espontânea vontade) Breuer sugeria que ela recordasse de tudo ao acordar, esperando que aquilo que foi acessado sob hipnose pudesse adentrar em sua consciência. O sintoma da hidrofobia foi removido e ela se lembrava de que tinha ficado muito zangada com a enfermeira.

Freud observou o procedimento de Breuer e queria entender como que a demonstração se conciliava com a teoria de Charcot. Freud tinha a seguinte questão: se a mente fora dividida (hipótese charcotiana sobre semiologia histérica),por que a lembrança do acontecimento traumático aliviaria o sintoma. Pela lógica de Charcot, a parte obscura continuaria produzindo efeitos sintomáticos. Breuer entendia que Charcot estava equivocado, pois o acontecimento traumático não dividiria a mente. O acontecimento traumático (gerador de sintomas) só faria com que a lembrança do incidente fosse retirada da consciência. Mas, diria Freud, como poderia isso criar sintomas? Breuer entendia que o acontecimento traumático estaria rodeado por emoções que não encontrariam uma saída natural pela consciente. Quando se está triste, se chora, quando se está com raiva, briga-se. A emoção é descarregada com uma ação física. Mas o que aconteceria se a emoção ficasse presa, estrangulada? O fogo não sairia, ele fica em combustão, a fumaça enche o quarto, o corredor, a casa inteira e finalmente, vaza por uma janela da despensa. Assim, Breuer defendia que um sintoma mórbido (como os histéricos) seriam apenas uma energia emocional saindo pelo lugar errado.

Embora incomodado com o “apenas...” Freud se mostrava concordante, por ora, com a teoria de Breuer, que segundo ele tinha tanta importância quanto as descobertas de Pasteur, que isolou o germe. Breuer havia isolado a memória patogênica. Contudo, Breuer estava inclinado a acreditar que o caso de Cecily era único, ao passo que Freud estava inclinado a achar que se tratava de um caso clássico.

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