segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sexualidade: o axioma psicanalítico (parte 5)


Então começa a épica ousadia freudiana ao tentar implementar as recém descobertas charcotianas e breuerianas no hospital geral em que trabalhava. Naturalmente, seu algoz e chefe, o professor Meynert, se colocou como um empecilho.

Aos 30 anos, o jovem Freud tinha que fazer um escolha. Poderia ter se tornado um emérito médico de Viena, ter sua própria carruagem, fortuna , status social, em suma ser mais um burguês emergente da alta sociedade, construindo sua reputação com médico de confiança. Mas Freud estava inclinado para a pesquisa, estava instigado pelo desafio cientifico genuíno (algo que, diga-se de passagem, nunca foi tarefa fácil para ninguém que levou Ciência a sério). Nada havia lhe impressionado mais que as aulas demonstrativas de Charcot, e ninguém havia lhe sido tão acolhedor, compreensivo e inspirador como Breuer.

O professor Meynert ordenou a Freud para que parasse com seus procedimentos de hipnose no hospital. Para ele, Freud havia abandonado a ciência no dia em que decidiu ir à Paris, assistir as aulas de Charcot. Meynert entendia que tanto Charcot quanto Freud estavam tentando fazer algo muito perigoso, e tudo porque, no fundo ambos eram obcecados pela loucura, que segundo ele, deveria se manter trancafiada nos porões da humanidade, que nada nem ninguém deveria lançar luz sobre alago que sempre fora domínio das trevas.

Meynert fazia experimentos com escorpiões mexicanos, animais extremamente sensíveis à luz do sol, fogem da luminosidade, se escondem nas trevas. Ele dizia que o que Freud estava supondo –lançar luz sobre aquilo que até então ninguém havia ousado- não mataria o mal, as trevas do espírito dos atormentados pelas mais diversas afecções da alma. Tudo o que Freud conseguiria fazer seria abrir as celas de onde tal mal estava confinado, sem poder exercer nenhum efeito sobre ele, pois não haveria nada que pudesse aplacá-lo. Este mal só viveria para dar conta de seus próprios interesses, que não tinham nada a ver com a ordem civilizatória estabelecida. Em suma, Meynert entendia (com razão) que Freud estava prestes a fazer algo que provocaria ecos absolutamente imprevisíveis e que, no fundo, ele se interessava tanto pela loucura para não se haver com a sua própria.

Por sorte, Freud tinha em Breuer alguém disposto a lhe ajudar. Breuer iria enviar a Freud todos os seus pacientes histéricos, e lhe pagaria pelo trabalho prestado o valor de 200 florins. Breuer sentia-se em débito com o espirito cientifico, que também lhe atraia, mas que denegou em pró da carreira médica e de uma vida burguesa bem estabelecida. Assim, fez-se os moldes da união fundamental para a gênese da Psicanálise.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sexualidade: o axioma psicanalítico (parte 4)


Breuer descreveu a Freud os sintomas de Cecily. Segundo ele a paciente encontrava-se semiparalisada, com a visão um pouco distorcida e com um quadro de hidrofobia (não conseguia beber água). Cecily acreditava que a água era suja, cheia de maldade.

Quando Breuer perguntava o que lhe fazia pensar que a água era suja, Cecily respondia que seu pai havia lhe dito isso em Nápoles. Breuer conta a Freud sobre “o choque com a realidade” que ele promoveu ao dizer que naquele momento, eles estavam em Viena e de que ela bebia água até poucos dias atrás.

Hipnotizada Cecily foi questionada sobre a aversão de beber água. Imediatamente, ela se lembra do animal imundo, com língua negra e longa. Ela se lembrou de que era um cão, seu cão: Schnaap. Ela também se lembrou de uma cena em que o cão estava sobre sua cama, tomando seu chá em sua xícara, de que o cão estava esvaziando a xícara que seu pai havia lhe dado. Na cena também havia uma enfermeira, por quem Cecily demonstrava certa raiva, pois havia sido ela quem permitira Schnaap fazer o que fez.A partir desse evento, Cecily passou a odiar as enfermeiras.

Contudo, ainda que sob efeitos de hipnose, ao falar sobre isso a paciente voltou a sentir sede e termina esta sessão bebendo um copo de água, algo que no início seria impensável (ao menos, por espontânea vontade) Breuer sugeria que ela recordasse de tudo ao acordar, esperando que aquilo que foi acessado sob hipnose pudesse adentrar em sua consciência. O sintoma da hidrofobia foi removido e ela se lembrava de que tinha ficado muito zangada com a enfermeira.

Freud observou o procedimento de Breuer e queria entender como que a demonstração se conciliava com a teoria de Charcot. Freud tinha a seguinte questão: se a mente fora dividida (hipótese charcotiana sobre semiologia histérica),por que a lembrança do acontecimento traumático aliviaria o sintoma. Pela lógica de Charcot, a parte obscura continuaria produzindo efeitos sintomáticos. Breuer entendia que Charcot estava equivocado, pois o acontecimento traumático não dividiria a mente. O acontecimento traumático (gerador de sintomas) só faria com que a lembrança do incidente fosse retirada da consciência. Mas, diria Freud, como poderia isso criar sintomas? Breuer entendia que o acontecimento traumático estaria rodeado por emoções que não encontrariam uma saída natural pela consciente. Quando se está triste, se chora, quando se está com raiva, briga-se. A emoção é descarregada com uma ação física. Mas o que aconteceria se a emoção ficasse presa, estrangulada? O fogo não sairia, ele fica em combustão, a fumaça enche o quarto, o corredor, a casa inteira e finalmente, vaza por uma janela da despensa. Assim, Breuer defendia que um sintoma mórbido (como os histéricos) seriam apenas uma energia emocional saindo pelo lugar errado.

Embora incomodado com o “apenas...” Freud se mostrava concordante, por ora, com a teoria de Breuer, que segundo ele tinha tanta importância quanto as descobertas de Pasteur, que isolou o germe. Breuer havia isolado a memória patogênica. Contudo, Breuer estava inclinado a acreditar que o caso de Cecily era único, ao passo que Freud estava inclinado a achar que se tratava de um caso clássico.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Curso: Psicologia e Saúde Mental

Imperdível.



PSICOLOGIA E SAÚDE MENTAL
Instituição, Clínica e Política

APRESENTAÇÃO:
Este curso breve tem como objetivo discutir a atuação do Psicólogo no contexto do SUS, entendendo tal atuação em sua conformidade com a Reforma Sanitária e Psiquiátrica brasileiras. O curso foi pensado para abrir espaço de diálogo sobre as questões referentes à saúde mental no contexto da saúde coletiva entre psicólogos em formação, entendendo que a formação universitária, na maioria das vezes, não oferece subsídios suficientes para a atuação do Psicólogo no Sistema Único de Saúde.
Os temas são abordados com viés crítico embasado, fundamentalmente, nas teorizações de Michel Foucault, Jacques Lacan, Gilles Deleuze e Félix Guattari, autores que vêm influenciando as revoluções da Psiquiatria desde a segunda metade do século XX.
PROGRAMA:
O curso foi estruturado em cinco encontros com os seguintes conteúdos.
1° - Reforma Psiquiátrica e suas relações com a Reforma Sanitária no Brasil.
Este encontro pretende trazer à discussão o contexto histórico das Reformas no Brasil embasando os conceitos que fundamentam os paradigmas em Saúde Mental atualmente. Com isso, abordando também as principais experiências internacionais que influenciaram a Reforma Brasileira, são elas as experiências de Portugal, Itália e França.
2° - Rede substitutiva ao Manicômio: o nascimento dos CAPS.
- A Experiência Santista e a criação dos NAPS: a influência radical de Trieste.
- O CAPS Itapeva.
- CAPS na rede: Residências Terapêuticas, CAT (Casa de Acolhimento Transitório) e Economia Solidária.
- O CAPS substitui o manicômio?

3° - Atenção Básica em Saúde Mental: articulações entre a Estratégia de Saúde da Família e a rede substitutiva ao manicômio.
- ESF – Estratégia de Saúde da Família.
- A estratégia do Matriciamento: o que faz a equipe de Saúde Mental?
- Clínica Peripatética: Esquizoanálise e Psicanálise conjugadas.
- A construção da subjetividade na Rede: o diagnóstico e a terapêutica.

4° - Política de Álcool e Outras Drogas no Brasil: Redução de Danos VS Guerra às Drogas.
- Redução de Danos: clínica indissociável da ética e política.
- O problema da Guerra às Drogas: política proibicionista e violação dos direitos humanos na “cracolândia”.
- Drogadição e Medicalização.
- Retorno ao modelo asilar: o adicto é o novo louco?

5° - Encerramento
Para o encerramento desse círculo de palestras, propomos algumas reflexões gerais acerca dos temas discutidos e apontamos algumas conclusões possíveis. Além disso, foi pensado o encontro como um debate entre palestrantes e participantes no intento de produzir novas questões trazidas pelo diálogo.

Inscrições apenas pelo email:espaco@poiesispsicologia.com.br
Vagas limitadas.
Investimento:$120,00

Sexualidade: o axioma psicanalítico (parte 3)


Pois chegou a hora de mostrar um encontro decisivo na história da psicanálise, Freud e Breuer. Após ter participado das impressionantes demonstrações de Charcot, sobre os benefícios da hipnose na compreensão da etiologia histérica, Freud voltou à Viena e trouxe consigo um relatório –algo como o que a Capes nos pede hoje quando vamos a algum Congresso por eles custeado- com suas descobertas e reflexões.

Na plateia, estava o professor e diretor do hospital em que fazia seus trabalhos (Meynert), Breuer, dentre muitos outros da comunidade médica vienense. Freud, em seu discurso, defendeu ser irrelevante a procedência das ideias que haviam surgido da mente dos pacientes de Charcot. Ou seja, que pouco importava se eram fruto de auto-sugestão -após uma experiência traumática- da hipnose, ou mesmo se eram obra do demônio -como se dizia antigamente sobre os ataques histéricos, entendidos como possessão demoníaca. Freud julgava importante o fato dessas ideias permanecerem desconhecidas para o paciente, afastadas, por alguma razão, da consciência. Para ele, Charcot, através do uso da hipnose nos permitiu vislumbrar algo novo, permitiu que alcançássemos e tocássemos um material inconsciente, esquecido, desconhecido, mas que surtia efeito de produção sintomático.

Neste relatório, Freud “obrigou” a comunidade médica vienense a convir com o fato de que após as lições e demonstrações públicas promovidas por Charcot em Paris seria inadmissível não aceitar a existência de pensamento em um âmbito não-consciente. Na época, Freud entendia que esses pensamentos inconscientes seriam produto de uma mente perturbada, ou estão conectados a algum trauma através de uma cadeia lógica cujos elos precisariam ser remontados.

A comunidade médica vienense se mostrou pouco surpresa com as descobertas de Charcot. O professor Meynert, por exemplo, reafirmou ser de conhecido o fato de que emoções fortes- como aquelas provocadas eventos traumáticos- podem afetar o sistema nervoso central, gerando quadros sintomatológicos diversos. O professor Meynert entendia não haver nenhuma lição a ser tirada das demonstrações de Charcot, nem sobre o hipnotismo, tampouco sobre o âmbito não-consciente de pensamentos. Meynert achava desprezível a conclusão de Charcot sobre a “mente dividida” após um evento traumático e julgava doente alguém que se valia de hipnotismo como técnica cientifica. Os médicos vienenses preferiam deixar “a especulação metafísica” aos parisienses, mantendo-se fiéis a experimentação fisiológica. Freud percebeu cedo, embora nunca tivesse assimilado, que não encontraria na comunidade médica a atenção e o reconhecimento que buscava.

Porém, foi a partir deste relatório que Breuer e Freud passaram a estreitar relações. O primeiro confessou que previu as reações hostis de seus colegas, e que por isso não tomou a palavra para si, mas que se surpreendeu com a coragem do jovem médico (Freud) em elaborar um relatório tão polêmico, que apontava para uma cegueira da comunidade médica e de suas estimadas teorias que nada poderiam contribuir diante da evidência dos casos de histeria que aumentavam nos hospitais.

Breuer confessou a Freud, também ser um praticante da hipnose. Ele apresentou, em linhas gerais, o caso de Cecily (aquela que mais tarde seria decisiva para a invenção da psicanálise), uma paciente que teve uma crise nervosa após a morte do pai, apresentando diversas desordens, por exemplo insônia. Breuer justificou o primeiro uso da hipnose como modo de faze-la dormir sem recorrer aos medicamentos. Contudo, uma vez no transe (rebaixamento da consciência ou estados de obnubilação) Cecily passou a dizer frases desconexas, mas que pareciam ter algum significado. Breuer passou a perguntar sobre o sentido por trás das palavras pronunciadas, e após algum tempo passou a perceber a causa de sua insônia: ela estava aterrorizada com um sonho recorrente em que via o corpo do pai sendo devorado pelos gatos de Nápoles, local onde ele havia morrido. E o mais surpreendente foi que contar os sonhos promoveu um alivio de seu terror. Assim ela passou do horror para um sono tranquilo. Desse episódio, surgiu a suspeita/questão de Breuer: se um sintoma pode ser aliviado com tal procedimento (fala sob estado hipnótico), por que outros também não poderiam? Assim, Breuer passou a hipnotiza-la recorrentemente, como forma de fazê-la acessar a cena de terror, revivendo o incidente traumático. Curiosamente, o procedimento fazia o sintoma desaparecer. Contudo, Breuer não entendia porque ele sempre voltava, ora igual, ora sob outro traje.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sexualidade: o axioma psicanalítico (parte 2)


Freud vai a Paris (saindo de Viena) para conhecer Charcot, um homem que ganhara fama e reconhecimento profissional mundial pelos métodos não convencionais de tratamento da histeria. Segundo Charcot, determinadas patologias desafiavam todas as regras científicas estabelecidas. Ele rompeu, por exemplo, com o princípio que dizia ser a consciência e o pensamento a mesma coisa. Ele também provou que a mente pode pensar durante o sono, quando induzido pela hipnose. Charcot representava para Freud o extremo oposto do prof. Meynert. Assim, Freud pediu licença do hospital dirigido pelo prof.Meynert (seu algoz) e foi à Paris acompanhar as aulas/demonstrações de Charcot.

Charcot elaborou a ideia de que a histeria rompia com o princípio médico de que todos os sintomas deveriam ser de origem orgânica e, também, com o principio psicológico de que a mente só é capaz de um pensamento de cada vez.

Assim, Charcot demonstrava em suas exposições que a histeria se tratava de uma afecção mental e que ela pode se dividir seguindo duas linhas do pensamento ao mesmo tempo. Para isso ele se vale de dois casos de histeria, uma feminina, e outra masculina. A feminina era Jeanne que tinha uma paralisia flácida em suas pernas, motivo pelo qual estava em uma cadeira de rodas. A partir dos sintomas, Charcot faz algumas perguntas e constata que a paciente não se lembrava se havia acontecido alguma coisa para ela estar naquele estado. Isso o fez colocar o esquecimento como uma das principais características da histeria. Os parentes desta paciente informaram que seus sintomas começaram após um acidente, em uma ferrovia, no qual Jeanne nada sofrera. Charcot levanta a hipótese de que a doença se desenvolvera a partir de um trauma psicológico.

O outro exemplo usado na demonstração de Charcot era um homem, Servais, com uma paralisia agitans (alguém paralisado mas com tremedeiras nos braços). Charcot perguntava a Servais quando começaram as tremedeiras, e ele respondia que havia cerca de um mês. Servais era cortador de madeira, e a cabana que se protegia de uma tempestade fora atingida por um raio. Este acontecimento, do qual Servais não se lembrava, não havia ocorrido há um mês, mas sim há cerca de um ano. Depois do acidente ele entrou no estado de paralisia agitans, típico de vítimas de trauma.

Charcot tirou a hipnose do campo da magia negra para mostrar seu valor dentro daquilo que ele entendia como método de compreensão da histeria. Através da hipnose foi possível produzir um estado mental similar àquele em que os sintomas foram concebidos.

E assim, Charcot fez as famosas demonstrações, hipnotizando primeiro Servais e depois Jeanne, para provar que os dois pacientes não sofriam de doenças orgânicas e que seu quadro sintomático era resultado de ideias presas em suas mentes.

Primeiro com Servais, Charcot sugeriu que ele estava entrando numa estado de calma, completamente tranquilo e que ao bater de palmas ele pararia de tremer. Estava feito: o sintoma histérico era extraído por meio de um comando verbal, demonstrando assim que não se tratava de origem orgânica. Depois, foi a vez Jeanne, que foi sugestionada a dormir profundamente. Feita a hipnose, Charcot sugeriu à mulher que a sensação estaria voltando às suas pernas e que ela poderia inclusive levantar da cadeira de rodas e andar novamente.

Charcot segue com sua demonstração, desta vez criando sintomas pela via da sugestão. Ele induz Servais a contrair o sintoma de Jeanne e vice versa. Após a demonstração, os assistentes acordaram os pacientes que tinham seus sintomas originais retomados. O estado hipnótico era uma simulação que permitia o entendimento dos processos mentais da histeria, mas não permitia a cura.

Freud, que assistia a esta aula/demonstração ficou bastante impressionado com aquilo que havia visto, em especial com a indução histérica feita a partir da troca de sintomas e com a tese de que o quadro sintomático era resultado de ideias presas em suas mentes.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Sexualidade: o axioma psicanalítico (parte 1)


É costumeiro o comentário “para o psicanalista, tudo é sexual...”. Diante desta acepção amplamente difundida no imaginário social acerca da psicanálise, vejo espaço para um esclarecimento sobre o conceito. Vou tentar remontar ao longo de alguns posts a história que fez Freud chegar a esta noção.

Para começar, uma célebre e polêmica frase de Freud (tanto no passado quanto hoje) “A etiologia das neuroses é sexual”. Esta frase foi proferida em uma época de triunfalismo e crise do saber psiquiátrico –colocado em cheque diante de fenômenos como, por exemplo, a histeria- cujo entendimento etiológico reinante eram dois: simulação teatral (Babinsky) ou afecção neurológica (Charcot).

Freud, desconfiava dessas teses, e acreditava estar diante de um tipo de afecção que colocava um claro problema ao pensamento médico e consequentemente ao método anátomo-clínico. No filme “Freud além da alma” há uma cena que ilustra bem este impasse. Freud acompanha uma explanação sobre uma paciente histérica (com sintomas de conversão física, a saber cegueira e paralisia nas pernas) proferida por seu professor, cujo entendimento sobre o fenômeno permitia-lhe dizer que “ Esta mulher diz sofrer paralisia da perna esquerda, mas numa paralisia real a perna não estaria tão rígida. Está paralítica está fazendo uma exibição mais apropriada ao teatro popular. Seus sintomas foram deliberadamente assumidos com o objetivo de atrair atenção, causar pena e fugir das responsabilidades. Quanto à cegueira, um fósforo -ele pega um fósforo e acende próximo aos olhos da paciente. As pupilas se contraem, alguém cego não faria isso.” Neste ponto, Freud pede permissão para fazer um outro teste. Saca do bolso uma agulha e atravessa a pele da perna da paciente que não demonstra reação alguma, o que demonstrava não se tratar de simulação teatral. Diante do teste, o professor fica desmoralizado e escapa pela tangente explicando que a ausência de reação era consequência da dormência na região causada pela ausência de movimentação.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Como diria Neil Young


Como diria Neil Young –inspirando Kurt Cobain – “it´s better to burn to fade away”. É preferível queimar de uma vez do que queimar em fogo lento. Trata-se de uma mensagem atípica, em uma cultura pautada pela administração das afecções.

A nós modernos, diria Nietzsche, o esgotamento e a fadiga se revelam entidades das quais não parecemos capazes de escapar. Há um contraste indelével entre a morosidade característica de nossa vida cotidiana e o investimento maciço feito pelas agências midiáticas, incansáveis em nos apresentar um mundo em formato de turbilhão. O alvoroço de novidades e possibilidades se contrasta com a ausência de cor e graça que nosso cotidiano nos apresenta incansavelmente.

Somos vítimas do tédio, da monotonia de um cotidiano empobrecido de aventuras e possibilidades. É comum sentirmos uma inércia frenética cujo principal efeito colateral é uma dívida eterna.

O cotidiano nos entorpece. Nele, não estamos nem alegre tampouco tristes. O cotidiano parece um entreato sem fim. A vida se torna extenuante, não chegando a ser alçada à dignidade de um drama. Podemos definir o cotidiano como “os dias que se sucedem infindavelmente..”.

Assim, faz-se lógico para sujeitos incolores e desencantados a prática de terapias engendradas no zen, budismo, ioga, ou por abusar-se tanto de estimulantes, tranquilizantes e psicotrópicos. O paradoxo do “querer” e “desejar” engendra aquilo que chamo de psicologias eticamente orientadas contra os “quereres” do mundo e aquelas orientadas sob a encomenda do mundo.

O que o mundo cotidiano deseja apesar de não querer? Certamente menos quietude, menos atordoamento, mais bagagem dramática, mais momentos autênticos, acontecimentos que tenham peso, mais instantes mágicos que nos atordoem
Em suma, e voltando à frase de Neil Young, os tempos nos apresentam duas possibilidades: viver ou durar.

http://www.youtube.com/watch?v=cawk2cMTnGo&feature=related