sábado, 23 de julho de 2011

Adiando, adiando...


Não há nada melhor do que deixar para amanhã aquilo que deveríamos fazer hoje, não é mesmo? Cotidianamente, fazemos diversos projetos magníficos para nós mesmos, em nossa imaginação, e neles gozamos. Contudo, ironicamente, colocá-los em prática, aos poucos -"Roma não foi construída em um dia"- nos cansa. Detestamos os meios, as pequenas coisinhas necessárias para chegarmos a imagem que demoramos meio minuto para conceber.

Ao nos cansarmos nessas pequenas tarefas necessárias, nos frustramos e vamos fazer qualquer outra coisa: assistir televisão, atuar no facebook, dormir, etc. O projeto, ainda sim, continua firme em nossa imaginação, e ainda gozamos ao pensar nele.

Se formos analisar, perceberemos que o atual projeto de nós mesmos detém semelhanças com outros projetos que outrora já concebemos. Estes, foram esquecidos, dariam muito trabalho, e diante das dificuldades acabamos por abandoná-los, passamos um período "de bode" e logo voltamos a erguer novos castelos para servir de refúgio a nossos desejos ocultos. Naturalmente, estes serão vencidos pelas dificuldades e serão deixados de lado. Trata-se de um mecanismo que contempla uma dupla repetição: erguer castelos para lá nos refugiarmos (ou o nosso desejo, como queiram) para, em seguida, abandoná-los quando eles se tornam chatos, repetitivos, pouco animados.

O grande texto seria aquele que não tive saco de escrever; a grande música foi aquela que não tive paciência de desenvolver; o grande relacionamento foi aquele que não tive coragem de arriscar. Há uma repetição aí: eu sempre sou aquilo que não pude ser. Por que não?

Parece que há um prazer na estagnação, desde que ela não seja percebida como tal. Temos um prazer inenarrável ao compor sonhos em nossa imaginação, e aí gozamos -daí a metáfora do castelo que serve de refúgio do desejo. Há uma aparente aversão à realização desses desejos: "o que acontece depois que minha fantasia se realiza?". Daí, diante desse temor ficamos paralisados em vidas pouco vividas e bastante pensadas. Claro, que também encontramos um grande prazer em eleger culpados para nossos fracassos. De bate-pronto: a falta de tempo, as pessoas que não colaboram, os pais, namoradas(os), etc.

Se o Brasil é o país do futuro, como gostamos de dizer, nós somos uma eterna possibilidade, dificilmente uma realização. Isso é um problema? Depende. Se entendermos que, o que faz da vida algo interessante é a diversidade de experiências, a auto permissibilidade que nos concedemos para encarar as consequências de vivermos nossos desejos (o que implica aceitar os sofrimentos brutais que isso, também, traz ) acho que se trata de um problema, pois nos contentarmos com o avesso disso, é nos curvarmos para o medo de encontrarmos nosso desejo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

" Sempre que penso uma cousa, traio-a "

" Sempre que penso uma cousa, traio-a.
Só tendo-a diante de mim devo pensar nela,
Não pensando, mas vendo,
Não com o pensamento, mas com os olhos.
Uma cousa que é visivel existe para se ver,
E o que existe para os olhos não tem que existir para o pensamento;
Só existo directamente para o pensamento e nao para os olhos.

Olho, e as cousas existem.
Penso e existo só eu. "

F. P, Alberto Caeiro.

Sobre o discurso dominante das responsabilidades



O superego, a identificação, agora é aparato, produz padrão, reduz ao olho a imaginação, converte a imagem no não-singular, no pretensamente singular, outrora geral, agora pretensamente individual, pretensão que assegura o inumano pretensamente necessário, que não necessariamente segura o humano regressante, que retorna deformado pelo inumano, inumano cujo imaginário o quer re-reprimir por não reconhecê-lo sujeito-humano, e sim objeto-inumano, que só reconhece agora a um outro-objeto, não mais um outro-sujeito, a um outro-objeto um sujeito não se identifica, a um outro-objeto um sujeito divide, a um outro-objeto um sujeito fragmenta, um sujeito que não reconhece sujeitos não reconhece a si mesmo, um sujeito que só reconhece sua imagem-objeto para fora e não mais sua imagem-sujeito para dentro não se constitui com e contra o outro mas pelo e para o outro, não vive a incerteza da identidade sublimada mas a segurança da alteridade introjetada, do autoritário genital, que faz sobrar o primitivo, que faz domar o primitivo, até que o que retorne seja a morte do sujeito, que é a morte do social, a morte daquele que agora conhece o desespero que já foi o do outro, outro que só goza, mata e se mata com gozo, a quem se culpa pela morte, a quem se ressuscita e se culpa com gozo, gozo travestido de ética, travestido de consciência, travestido porque fascista, o gozo da morte.

sábado, 16 de julho de 2011

O Dever Conjugal


Não há tema em que se mente mais do que sexo. Mente-se porque o sexo e, sobretudo, o que nele está envolvido ainda é um grande tabu social. Desculpem-me os que acham que nunca fomos tão libertos, que as pessoas nunca transaram tanto, etc. Adianto que as pessoas não transam tanto quanto falam e, ainda que transem, também não gozam tanto assim. Homens e mulheres mentem sobre sexo de formas muito diferentes. Em geral, o homem mente aumentando e a mulher diminuindo.

Mas, e os deveres conjugais? Bem, em nossa cultura as relações de um casal são pautadas em rituais que não fogem muito a alguns costumes estabelecidos. Em suma deve-se ter cumplicidade, amor e, de preferência muito sexo. Freud –pai da psicanálise- serviu de inspiração para Lacan –psicanalista francês- quando este pronunciou a máxima “Não existe relação sexual” quando lançou mão da metáfora do encontro de porcos espinhos do filósofo Schopenhauer, século XIX

Nessa metáfora sobre a impossibilidade do encontro absoluto, dois porcos espinhos expostos a um frio de rachar se aproximam um do outro para se aquecer. Passado o frio avassalador, eles notam o quanto se feriram mutuamente e aprendem que não podem se aproximar tanto, mesmo que a idéia pareça atrativa.

Trazendo isso para nossas vidas, principalmente para a vida conjugal, chega-se as seguintes perguntas: Num jogo erótico vale tudo? A que condições um homem ou uma mulher podem (ou querem) acompanhar seus parceiros em suas fantasias?

A clínica psicológica nos mostra que muitas pessoas aparentemente “normais” –entenda: bem casadas, realizadas profissionalmente, etc- se sentem sozinhas, tristes e, em suma, insatisfeitas com seus relacionamentos. A OMS (Organização Mundial de Saúde) num relatório feito em 2007 apontou o crescimento da depressão na população mundial, dizendo que, provavelmente, seria um dos principais males do século XXI. Lacan, em mais uma de suas famosas e polêmicas frases disse certa vez que “Depressão é covardia moral”, ou seja, significa o recuo diante do desejo. Mas por que recuaríamos diante do desejo?

Nesse ponto a psicanálise pode nos ajudar bastante. Em uma análise estimula-se o paciente a reconhecer seu próprio desejo (Reconhecimento de Desejo) mas isso acarreta um efeito, o desejo reconhecido precisa ser reconhecido por algum outro amado (Desejo de Reconhecimento). Mas o que isso tudo tem a ver com os deveres conjugais?

Resumo da ópera: 1)O que define a subjetividade é o conflito. Desconfie de pessoas sem conflitos, pois, muito provavelmente, ela “resolveu” suas confusões íntimas desistindo de suas fantasias, desejos e sonhos; 2) Num relacionamento, amar é um exercício constante, quase um trabalho. Deve-se estar atento ao outro, e estar apto a reinventar o relacionamento para que ele não engesse seus protagonistas em identidades sexuais pouco plásticas. Num jogo erótico vale tudo? Vale tudo o que eu aguento. E se aquilo que não aguento no meu parceiro for insustentável, devo repensar se o amo, de fato; 3) Os deveres conjugais –que certamente irão continuar existindo- podem, portanto, servir para engessar a relação se não permitirem que o casal explore as múltiplas identidades um do outro, ou para manter vivo o perigoso desafio de conhecer a pessoa que está ao seu lado. Garanto que nessa opção, você poderá sofrer de muitas coisas, menos daquilo que Lacan chamou depressão.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Eternos Garotões




Quem nunca presenciou um homem de idade avançada agindo tal qual um garotão de vinte e tantos anos? Como um garotão de vinte e tantos anos age? Um garotão dessa idade, em nossa cultura, está autorizado ( e incentivado ) a agir em plena conformidade com seu prazer pleno. Todas as proibições que o castraram da plena realização de seu desejo na adolescência, agora são mais do que possíveis, são obrigatórias.

Em nossa cultura é isso o que se espera de um garotão de vinte e tantos anos. Mas, como tudo o que supostamente é bom acaba, o que ocorre quando nosso garotão avança na idade e se vê diante do espelho e dos olhos dos outros, como alguém já não tão incentivado a gozar da vida dos prazeres?

1) Se eu não me percebo mais tão desejado pelo outro -e portanto autorizado e/ou incentivado a curtir a vida dos prazeres fáceis- e vejo, por exemplo, meus filhos, e os garotões da empresa em que trabalho ocupando um lugar que já foi meu, passo a imitá-los: roupas, vocabulário, hábitos, etc.

2)Retornando aos meus vinte e tantos anos, volto a me sentir vivo e como alguém que pode curtir a vida dos prazeres, pois, afinal de contas, repensar na vida é para quem tem lá seus cinquenta anos.

3) Embora eu consiga por em prática meu auto-engano, isso não vem sem custo. Diferentemente de quando eu tinha meus vinte e poucos anos, quando não precisava fazer absolutamente nada para me sentir como tal, agora preciso de um esforço considerável para, principalmente, olhar para o espelho e para o olhar do outro e não enxergar um "você está sendo ridículo" estampado em ambos.

Moral da história, em nossa cultura a idade avançada é algo a ser evitado porque, principalmente, não há inscrição de desejo nela. Quando a velhice não é desejada, ela se torna proibida. Pelo que noto, essa evitação se relaciona com uma dificuldade que temos em deixar a euforia despreocupada -lugar destinado e ocupado pelos garotões de vinte e poucos anos- para nos havermos com nossas próprias escolhas.

Uma cultura que destina para sua velhice -condição inalienável do humano, todos vamos chegar nela um dia-o lugar a ser evitado a todo custo, é uma cultura que não gosta de se olhar de perto. Daí tantos homens avançados na idade se portando com adolescentes, quais são as opções possíveis se, sobretudo, o velho não é desejado pelo outro?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Quanto às escolhas que nos rodeiam e nos angustiam diariamente, nada mais sensato do que coragem para carregá-las. Mas quantos agüentam o peso?!
Nietzsche em “O Anticristo” (1895), diz: “Fomos suficientemente corajosos, não poupamos nem a nós nem aos outros: mas por muito tempo não sabíamos aonde ir com nossa coragem. Tornamo-nos sombrios, éramos chamados de fatalistas. Nosso destino era a plenitude, a tensão, o represamento das forças. Tínhamos sede de energia e proezas, mantivemo-nos o mais afastado possível da alegria dos débeis, da “resignação”...Havia uma tempestade em nosso ar, a natureza, que somos nós, escureceu porque não tínhamos caminho. A fórmula da nossa felicidade: um sim, um não, uma linha reta, uma meta... ”. Fatalista, sábio, cético, louco. Da filosofia, sua arte, da lucidez, sua loucura, da desconstrução, uma visão que muito nos serve. Fez, foi e ficou na história porque acreditava nas suas convicções e no sentido que elas faziam, por mais que faltasse. Desacreditava na maioria das verdades universais, mas nunca dele mesmo. E por que não admirar essa coragem...E por que não ousar o desejo...
Decisões que adiamos, falas que contemos, a modernidade não sabendo escolher pois não sabe o que deseja. É o desejo que não é encarado porque pesa demais. Ficamos então emperrados nos próprios medos e a liberdade em relação a nós mesmos é traída pelas nossas próprias fugas. Evitamos a dor, adiamos o luto, nos escondemos atrás das nossas vontades, porque falta força, falta coragem. Quanto pesa saber de si e por que isso nos desencoraja?! Por quê o medo do peso e a preferência pela leveza? Em Insustentável Leveza do Ser(1984),de Milan Kundera, há uma questão que aqui nos cabe: “o que é positivo, o peso ou a leveza? Se o fardo mais pesado é, ao mesmo tempo, a imagem da mais intensa realização vital e quanto mais pesado mais nossa vida é real e verdadeira e, por outro lado, ser leve é distanciar da terra; os movimentos são tão livres quanto insignificantes.”
Que seja como pedra, ou como pluma, mas que haja coragem.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Conhece-te a ti mesmo

                                                                                     
Por Thiago Marinho Reis
                                                                                       
                                                                                            “Conhece-te a ti mesmo”
                                                                                            Sócrates 470-399 a.C.


Em diversas situações no decorrer de nossas vidas terminamos por pensar e agir de
forma que, posteriormente, nos arrependemos. Perguntas como “por que eu disse isso?” ou
“por que eu fiz aquilo?” às vezes batem em nossa cabeça e por lá ficam por dias e dias. Muitas
vezes isso é natural e não implica em grandes consequências em nossa rotina. Contudo, há
momentos em que não saber os reais motivos pelos quais agimos e pensamos nos trás grande
sofrimento, além de prejudicar nossas relações com os outros.
Nessas horas, poucas alternativas nos restam além de tentarmos responder essas
perguntas, para que assim possamos voltar a viver da forma como acreditamos ser a melhor.
Contudo, de que maneira podemos respondê-las?
Se você consegue identificar esse momento e se vê disposto a buscar respostas, você já
deu o primeiro  – e talvez mais importante  – passo, pois nos custa muito olhar para nós
mesmos e percebermos que precisamos de ajuda.
Através da terapia encontramos  um espaço onde podemos olhar para dentro de nós
mesmos sem nos preocuparmos com o julgo social, pois o terapeuta diante de você está lá
para acolher o que lhe é dito, sem qualquer julgamento. Apesar de a participação em um
processo terapêutico demandar tempo e muita energia, podemos, através dele, iniciar
pequenas mudanças em nosso ambiente e rotina para que, assim, possamos modificar o nosso
comportamento.
Essa nova perspectiva nos auxilia a adquirir o autoconhecimento, essencial para que
mudanças efetivas possam começar a surgir em nossa vida. Com ele, vamos aos poucos
descobrindo melhor a forma com que o mundo influencia a nossa maneira de pensar e agir.
Se autoconhecer é buscar assumir a responsabilidade pela própria vida. É o que nos
possibilita melhorá-la.