A inteligência é um afrodisíaco; as mulheres que compreenderam esta máxima estão menos solitárias e vazias no final das noites.
Ok leitora, não forcemos a amizade: grande parte dos homens só estão mesmo interessados em coxas bem torneadas, jeans apertado, decotes generosos e, sobretudo, pouco falatório e cobranças.
Serei categórico: dê uma lição a estes homens, desista deles. Sim, desista. Ainda que você fosse esse avião todo, este homem lhe promoveria ao digníssimo status de “troféu” para se gabar diante dos amigos; o tempo seria cruel, pouco a pouco você encontraria o destino inexorável: não há como manter a boa forma para sempre.
Pronto, chegamos a um dos principais fantasmas da condição feminina: o envelhecimento. E agora, diria você, como faço para ser vista, para chamar a atenção, para ser desejada? Voltemos à primeira frase do texto, agora explicando.
Supondo que seu interesse não é um lugar provisório na prateleira de um daqueles caras, mas sim o interesse real de um homem em você (não em sua imagem especular) alguns apontamentos sobre o universo masculino superior.
1)Já se perguntou sobre o porquê do sucesso das prostitutas e das amantes no imaginário masculino? Pois então, homens não primários (casados ou solteiros) dificilmente resistem às mulheres que se mostram interessadas, de alguma forma, em suas fantasias, identidades secretas, lados Bs; 2) Mulheres identificadas com esta posição tornam-se caríssimas aos homens interessados por relação com mulheres; 3) Tendemos (nós humanos, independente do gênero) a desvalorizar o que vêm com facilidade, então ponha um preço (condição) para estar nesta posição tão almejada pela fantasia masculina.
Ademais, a clínica psicanalítica nos mostra que muitos homens se encontram frustrados diante do desinteresse das mulheres por suas fantasias não óbvias. Eis um arranjo bastante favorável (e possível), talvez uma chave, para desarmar o temor da solidão, da invisibilidade e, ainda por cima, uma tangente para um amor real, e a dois.
Em matéria de sexo, constatamos na prática aquilo que Freud tão bem teorizou: a obviedade não está no menu de nossas fantasias. Problema: não existe sexualidade autonomizada da fantasia. Acessar a fantasia, contudo, não é nada intuitivo ou óbvio, requer trabalho e, preferencialmente, um psicanalista. Mas, sobretudo, requer um desejo: desejo de saber sobre si. Aqui a coisa pega, pois saber de si incide em atentar deliberadamente contra o narcisismo (idealização de si mesmo).
Bem, sempre há opções. Existem muitas prateleiras vazias, esperando troféus para se embelezarem. O problema, cara leitora, é o final dos dias, das semanas, dos meses, dos anos, não é...?
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Mulheres Inteligentes
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Um Divã Para Dois
Sabe quando você vai assistir uma daquelas comédias românticas que trazem ao contemporâneo o conto de fadas da Bela Adormecida ou da Branca de Neve versão fast food? Após gargalhadas, choros e torcida chega o tão esperado final feliz. Mas não tarda a vir o pensamento “Legal, mas como será que o casal apaixonado irá viver agora...?”
O excelente “Um Divã Para Dois” de David Frankel, em cartaz nos cinemas, inverte a chave: o ponto de partida é o inferno matrimonial 30 anos após a conquista. Filme sério (embora cômico) sobre relacionamentos. Kay (Meryl Streep) e Arnold (Tommy Lee Jones) formam um casal de terceira idade. Há tempos a relação estacionou e eles se adaptaram a rotina que fez seu papel de amenizar a evidente degeneração da relação. Bem acomodados aos papeis que exercem, tentaram se convencer (cada um ao seu modo) de que não havia mais nada que a vida pudesse-lhes propiciar. Kay não aguenta e procura por uma terapia intensiva para o casal, arrastando consigo o rabugento (mas engraçadíssimo) Arnold.
Alguns apontamento suscitados pelo filme:
1)O filme confirma o que a clínica nos atesta: nada traz tanta miséria subjetiva quanto a completa ignorância/indiferença às nossas fantasias. 2) A antiga associação entre durabilidade e qualidade de relação é absolutamente enganosa. Não basta “trabalhar” para manter/preservar a relação. Há de se “trabalhar” para qualifica-la. 3) O casamento é uma instituição falida? Talvez, mas em termos. Não estou convencido da superioridade das opções que nossa cultura criou para viver o amor a dois. 4) Nossos velhos se convenceram que idade avançada significa fim da vida sexual.
Comentários:
1)O ápice conjugal ocorre no momento em que ambos conseguem vivenciar (a dois) suas fantasias. 2) O desenrolar da trama seria improvável para alguém identificado com as soluções que nossa cultura oferece para as inexoráveis turbulências conjugais. Os servos do “prazer imediato e total custe o que custar” não simpatizariam com a necessária abdicação que qualquer experiência qualificada traz como exigência. 3) Ainda estamos aprendendo a dosar (temperar) o paradoxo fundamental trazido pela Modernidade entre segurança e liberdade. A grande maioria das patologias psíquicas estão relacionadas a excessos ou inibições de ambas. 4) O filme trabalha (sutilmente) uma questão de fundamental importância: menopausa é uma questão que deve ser levada a sério, seja por quem vive, seja por quem trata. Nossa cultura desprezou o velho de tal forma, que fez-se um perigoso curto-circuito associativo: fim da possibilidade reprodutiva representa o fim da vida sexual.
Por fim, quando o corpo acorda de seu sono profundo e problematiza nossas vidas, com suas incessantes e escandalosas demandas, temos duas formas de enfrentar a situação: saber do desejo ou aderir aos modismos oferecidos pelo mercado de soluções baratas. Kay optou pela primeira. Para os críticos da instituição casamento, uma resposta.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Eterno Começo
Diagnóstico: fascinado por começos, alérgico a meios, constantemente disposto a recomeçar de novo, preferivelmente em meio a gargalhadas devidamente documentadas no Facebook, eis o homem contemporâneo.
Pense em você leitor(a). E aquele plano que você fez para você nos últimos suspiros do ano passado? E aquela história de “um novo eu” para o “novo ano”? Não precisa ir longe: certamente hoje você teve uma série de ideias nas últimas duas horas para “um novo você”.
Seguramente que a viabilidade destes novos planos exigiriam o sacrifício daqueles que
você se esforça diariamente para tocar. Mas, diria você “Danem-se estes planos. Pensando bem eu nunca gostei muito deles” ou “Eles não estão me fazendo bem, não estou feliz, só estou tendo trabalho”.
A mecânica (sim, mecânica!) contemporânea é sinistra e banal. Somos fascinados pela operação reiniciar. O coro dos fanáticos pela felicidade total hipnotiza os carentes de sentido. Olha-se para os lados e logo se vê alguém se reinventando, sempre devidamente eufórico. Você, tentando se haver com as intempéries geradas por aquele antigo plano que resolveu levar à cabo, está facilmente suscetível a calefação.
Não surpreende a alergia aos meios. Estar simplesmente em meio a uma escolha (nem pateticamente deslumbrado, tampouco amargurado e fissurado pelo fim da agonia) pressupõe um gosto pelo hábito, termo antigo, em franco desuso em tempos de reinvenção diária de si mesmo.
Não tenho dúvidas que Zygmunt Bauman é o pensador do nosso século (ao menos do seu início). A ambivalência do pós-moderno é, segundo o polonês, sinistra e banal: ele quer, o tempo todo, coisas que não tem, mas estas colocam-lhe um preço que ele não pode pagar. O que ele quer? Tudo o que aplaque o mal-estar líquido do qual nunca escapa.
Oras, mas para isso ele precisaria passar por uma transformação retroativa do seu estado: teria que fazer o curso líquido --> sólido. Na mecânica da operação “reiniciar”, à qual me referia, a tendência do líquido é “encontrar sua paz”, saindo do tédio que é a situação líquida ao vaporizar-se.
Há retorno para esta sinistra e banal dinâmica termostática que vive a me engolir, trazendo-me este terrível sofrimento vazio? Sim. A que preço? Quanto você pode pagar?
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Mulheres e Homens
Desejo, logo sofro. Talvez esta seja a máxima psicanalítica por excelência. Se a Psicanálise tem algo de útil a oferecer (e seguramente tem), certamente é sobre esse negócio chamado desejo. Como se constrói o desejo? Há lógica? Sim, mas vamos com calma.
Desejo e vontade não são sinônimos. Os desejos estão na categoria das paixões, matéria constituinte da maldita condição com a qual devemos aprender a lidar. No universo heterossexual, o desencontro entre homens e mulheres é certeiro. Já o encontro -que seria o desejável- é matéria constituinte dos momentos mágicos onde a vida deixa sua marcha ordinária.
O itinerário habitual começa no jogo das mútuas idealizações (se um não quer, dois não brigam). Neste ponto, homens e mulheres saciam demandas com aquilo que estão em condições de ofertar - eis a mágica e o que faz o fascínio dos começos. A mulher, sobretudo, deseja ser capturada por um homem que mostre-lhe um fervor desejante, demonstre que a ame, preferencialmente dando provas. Assim, no pleno exercício de sua demanda, ela acaba por oferecer o que interessa à demanda masculina: a conquista. O desejo feminino por ser desejada está para o desejo masculino da conquista (ou captura, no cruel universo darwinista).
Mas, em se tratando de desejo, a coisa nunca é tão simples. É bastante evidente para quem lida com os sofrimentos de pacientes que sofrem por desejos insatisfeitos, que, comumente, eles se atrapalham bastante nesse game of love. Vou comentar um dos incontáveis “erros de cálculo”.
As mulheres, em especial, aprendem rápido que a melhor forma de conseguir saciar sua demanda é por meio da indiferença completa àqueles que se apresentam como pretendentes. Há verdade nisso. A lógica que anima a estratégia é: “se eu me entregar de lambuja, ele não irá me valorizar como eu quero, afinal, quem valorizaria aquilo que não deu trabalho para conseguir?”
Estratégia perfeita, no século 19. Hoje, homens assustados com o processo de independência da mulher, estão em crise com a função-macho. Ou seja, aquilo que afirmava sua potência -a capacidade da conquista- tornou-se árido a ponto dele não acreditar ser possível. Desse modo, a estratégia da indiferença é interpretada como “mais uma mulher independente que não precisa de mim”. Diante disso, o homem ressentido também dá sinais de indiferença e nada acontece.
Assim, homens e mulheres ficam a cirandar em um carrossel infernal que não para de rodar. E, no final da noite, todos estão a sós com suas frustrações. Consultórios psicológicos recebem homens ressentidos, reclamando das mulheres autossuficientes, e mulheres desesperadas por amor, reclamando dos homens que não querem nada com nada. Uma dica: dada nossa tendência a projetar nos outros nossas falhas, sempre achando que nele reside todo o problema, talvez ajude em alguma coisa perceber que você também é falho.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Melancolia
Há tempos Lars von Trier estreitou relações conjugais com a tradição trágica da existência. Para habitar este universo rarefeito é preciso coragem, algo que parece sobrar ao diretor dinamarquês e faltar em nossos tempos.
Seja em Dogville (2003) ou em O Anticristo (2009), Lars Von Trier encurrala, em um beco sem saída, todos representantes das utopias modernas para fincar-lhes presas envenenadas, engolfando o expectador no deserto agônico que nossa cultura insiste maquiar.
Nos dois filmes mencionados acima, o Mal é o protagonista. Como bom trágico, Lars von Trier é um moralista cético. Quando falo em moralista não me refiro ao uso cotidiano do termo, mas sim a filosofia moral, tal como nos fala Nietzsche, Dostoievsky, Hume, entre muitos outros. Aqui não há espaço para utopias. O ser humano é naturalmente mal, restando à sociedade a incumbência de civiliza-lo (o oposto da lombeira hipótese de Rousseau).
Em Melancolia (2011) o diretor adentra, impiedosamente, em nosso desamparo fundamental. A narrativa edifica-se nos diferentes movimentos das irmãs Claire e Justine ante a inelutável cercania do Fim. A otimista, madura e bem resolvida Claire, em emergência, apega-se, em meio a gemidos nervosos, à messiânica razão científica. A pessimista e infantil Justine sabe das coisas, e por isso não liga.
Em termos nietzschianos –aparentemente um dos estros poéticos do diretor- Claire está no registro do ressentimento, incapaz de suportar a completa indiferença cósmica em relação à vida. Justine –a heroína- ao se render, nua e diabolicamente serena, diante dos encantos do Planeta Melancolia poderia entoar intuitivamente a máxima kafkiana de que existem muitas esperanças, não para nós. Na chave nietzschiana, Justine estaria no registro do niilismo passivo: nega os afetos infantis que animam a moralidade patológica de Claire e John (os “adultos” da narrativa) mas não consegue respirar fora de sua cripta.
É claro que podemos tomar o filme como uma metáfora comprobatória da experiência laboratorial que demonstra as consequências comportamentais da ausência de contingências reforçadoras, ou da sapiência psicanalítica sobre a melancolia enquanto um luto sem fim, fruto do processo de esvaziamento e pauperização de um Eu fixado na perda do objeto constituinte, ou mesmo na reflexão psicossociológica acerca dos desdobramentos nefastos da produção de subjetividades encasteladas pela lógica mercantil.
Todas as vezes que revejo o filme noto-me quase a sentir o cheiro da melancolia no ar. Acho que o cinema de Lars von Trier está próximo do que poderia ser chamado de um “cinema trágico”. Seja pela construção de personagens profundos ou mesmo pelo gosto em desvelar o que costuma ser matéria de recalque, fato é que não se escapa incólume de seus filmes. E pior, ao tentar resenhar sobre, a tendência de quem entendeu a metáfora do filme é somente uma: silenciar.