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Queria agradecer a todos que compareceram ao Cine-Debate sobre “O Cisne Negro”. Vou tecer algumas considerações sobre o que me ficou do filme.
Diria Lacan “ao psicótico falta pai-simbólico”, digo que a Nina também. A protagonista mostra as dificuldades que alguém que “não foi castrado” enfrenta em um mundo como o nosso. Castração em psicanálise significa separação da simbiose originária que toda criança experimenta com sua mãe (ou alguém que exerça a função). O pai-simbólico é aquele que nos introduz a única Lei humana: “você não pode ter tudo o que quer”.
Na constituição da personalidade ( em outras palavras, na formação do Inconsciente) todos nós escolhemos ( sem consciência ) se vamos aceitar ou não essa dura Lei, que nos tira do amparo para nos jogar no desamparo, que é a única condição do Desejo: a falta.
Trata-se de uma impossibilidade, portanto, sexual visto que depois de Freud a criança deixou de ser considerada inocente, pura e assexuada, para se transformar em inocente, pura em suas intenções sexuais. A castração feita pelo pai-simbólico é a condição de alguém existir como Sujeito (em psicanálise: aquele que deseja). Angústia, portanto, é tolerável para quem aceitou (nos primórdios da formação do Inconsciente) a Lei da Castração, mas inaceitável para quem não o fez.
Nina não aceitou, não tem pai-simbólico, não foi castrada e vive em uma simbiose com a mãe sádica que lhe impõe um lugar a ser ocupado: o lugar da garotinha doce da mamãe. Assim, Nina encontra seu equilíbrio em uma posição masoquista (de objeto de prazer do Outro), e assim se protege de angústias intoleráveis de castração.
Porém, em uma sociedade concorrencial em que o lucro é a lógica mor, alguém assim pode ser levado à construir uma trágica e aflitiva loucura que nada tem a ver com ideais românticos da mesma (o louco é o porta voz daquilo que está reprimido na cultura). Não. Na história de Nina, que estava condenada a se colocar como objeto de Gozo de qualquer um a quem devesse satisfação (posição masoquista) é levada a mobilizar tudo aquilo que ela não tinha estrutura para mobilizar: o sexual.
Para alcançar a sua almejada perfeição –masoquista- e conseguir encenar divinamente o cisne negro para fazer o Diretor da Cia. de Balé gozar, ela acabou sucumbindo sua única possibilidade em vida, o cisne branco. Nesse jogo perverso, nossa heroína triunfou na loucura e perdeu a vida.
O cisne branco, portanto, cai denunciando o cerne da trama social: a objetificação do sujeito e a impossibilidade de sustentar uma posição de objeto para o Desejo do Outro, que incessantemente lhe coloca nesse lugar.
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