quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Nota Psicanalítica 5


As vezes nos surpreendemos com aquilo que falamos para o analista.

A experiência de poder falar sobre qualquer coisa que se passa pela cabeça, sem nos preocuparmos com os sentimentos de quem está nos ouvindo, nos revela, com certa surpresa, bastante de nós mesmos.

domingo, 16 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

Nota Psicanalítica 4


Desde os primórdios da Psicanálise, com Freud analisando Bertha Pappenheim, mais conhecida por Anna O., até hoje, a talk cure (cura pela fala) se sustenta como um método surpreendente.

Como é difícil falar. Nos deparamos diariamente no consultório com esse impasse. Toneladas de afetos reprimidos, sentimentos desorganizados e pesados demais para se ordenarem em uma fala. Reclamações pipocam e pedem por soluções mágicas.

O jeito é falar para tentar encontrar aquele fio solto em nossa história que parece não se conectar com nada. De onde vem esses pensamentos, essas ideias, esse mal estar? Fale, fale, fale...

Lembranças encobridoras não devem ser confundidas com memórias reprimidas, que se expressam pela via do sintoma.

Aquilo, que por não ter sido falado, repousa no enigma do sintoma. Aquilo que não foi falado (e portanto, escutado) deve ser falado e escutado para que o Novo surja como uma possibilidade real, não mais como uma miragem imaginária.

domingo, 9 de outubro de 2011

Nota psicanalítica 3



Saber e Conhecimento psicanalítico são duas coisas distintas. O Conhecimento se dá a partir do estudo conceitual da psicanálise, o saber se dá a partir da própria experiência analítica: você no divã sentindo no corpo aquilo sobre o qual Freud, Lacan e companhia disponibilizaram a todos que se interessam.

O psicanalista, fundamentalmente, se forma no divã, testando em si mesmo a própria clínica. Quando os conceitos se confundem com abstrações especulativas, estamos no território da filosofia, não da psicanálise. O psicanalista não é aquele que põe o Inconsciente em dúvida, mas sim aquele que o afirma. Esta certeza só se faz possível, quando se detém um Saber duramente adquirido na análise pessoal, que demonstra ao analista aquilo que ele precisa para não titubear em dúvidas metódicas.

A psicanálise só deixará de ser uma abstração especulativa para aquele que a opera, quando se souber que, ao menos para alguém, ela se mostrou verdadeira: para si mesmo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nota Psicanalítica 2


O sintoma psicanalítico se difere da compreensão sintomática de qualquer outra ciência psicológica, porque pressupõe a existência ativa do Inconsciente, tal qual Freud exaustivamente se esforçou em definir. Assim, o sintoma, em Psicanálise, é construído onde a repressão e os mecanismos inconscientes são dominantes.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CINE DEBATE- Cisne Negro

(Me)nina frágil, temeu o mesmo que a assegurou.
Identificação simbólica impedida, imagem do eu exterior ao corpo, branco no preto, preto no branco, e o branco e o preto se misturou.
Esse lugar de gozo do outro (objeto do outro) não se assujeita né Paulo? Enforcou-se em significantes imaginários e desesperou-se no confuso da substituição, na impossibilidade de metaforizar. Estando a margem da provação da lei simbolica, atravessou o palco no mais pleno estado de perfeição,
e nao atravessou a fantasia.
Belissima descrição meu amigo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Cisne Negro e a Psicanálise


Queria agradecer a todos que compareceram ao Cine-Debate sobre “O Cisne Negro”. Vou tecer algumas considerações sobre o que me ficou do filme.

Diria Lacan “ao psicótico falta pai-simbólico”, digo que a Nina também. A protagonista mostra as dificuldades que alguém que “não foi castrado” enfrenta em um mundo como o nosso. Castração em psicanálise significa separação da simbiose originária que toda criança experimenta com sua mãe (ou alguém que exerça a função). O pai-simbólico é aquele que nos introduz a única Lei humana: “você não pode ter tudo o que quer”.

Na constituição da personalidade ( em outras palavras, na formação do Inconsciente) todos nós escolhemos ( sem consciência ) se vamos aceitar ou não essa dura Lei, que nos tira do amparo para nos jogar no desamparo, que é a única condição do Desejo: a falta.

Trata-se de uma impossibilidade, portanto, sexual visto que depois de Freud a criança deixou de ser considerada inocente, pura e assexuada, para se transformar em inocente, pura em suas intenções sexuais. A castração feita pelo pai-simbólico é a condição de alguém existir como Sujeito (em psicanálise: aquele que deseja). Angústia, portanto, é tolerável para quem aceitou (nos primórdios da formação do Inconsciente) a Lei da Castração, mas inaceitável para quem não o fez.

Nina não aceitou, não tem pai-simbólico, não foi castrada e vive em uma simbiose com a mãe sádica que lhe impõe um lugar a ser ocupado: o lugar da garotinha doce da mamãe. Assim, Nina encontra seu equilíbrio em uma posição masoquista (de objeto de prazer do Outro), e assim se protege de angústias intoleráveis de castração.

Porém, em uma sociedade concorrencial em que o lucro é a lógica mor, alguém assim pode ser levado à construir uma trágica e aflitiva loucura que nada tem a ver com ideais românticos da mesma (o louco é o porta voz daquilo que está reprimido na cultura). Não. Na história de Nina, que estava condenada a se colocar como objeto de Gozo de qualquer um a quem devesse satisfação (posição masoquista) é levada a mobilizar tudo aquilo que ela não tinha estrutura para mobilizar: o sexual.

Para alcançar a sua almejada perfeição –masoquista- e conseguir encenar divinamente o cisne negro para fazer o Diretor da Cia. de Balé gozar, ela acabou sucumbindo sua única possibilidade em vida, o cisne branco. Nesse jogo perverso, nossa heroína triunfou na loucura e perdeu a vida.

O cisne branco, portanto, cai denunciando o cerne da trama social: a objetificação do sujeito e a impossibilidade de sustentar uma posição de objeto para o Desejo do Outro, que incessantemente lhe coloca nesse lugar.