quarta-feira, 30 de maio de 2012

Clinica sobre Transferencia

Há uma regra importante para o início de uma análise: deve ser desejo do analisante operar sobre si, a partir da associação livre, e desejo do analista estar disponível para a escuta, a partir da atenção flutuante. E essa regra segue ríspida, mesmo que no começo de toda disposição do contar, a associação não seja tão livre como se possa imaginar- há tropeços no discurso, falhas de memória, faltas, atrasos, afonia, porque esse lugar que se presta o analisando quando acha-se pronto a falar de si, resiste a entrega, racionaliza idéias, diz como se escutasse o próprio dizer.

Há de haver um tempo em que toda essa resistência que trava o discurso, que trava a palavra de revelação, vai dando lugar a palavras que dizem sobre sintomas que carregam verdades, transformando a relação do sujeito com sua própria escuta. Em que o “estar em análise” faz com que o analista exerça sua função de encorajar o analisando a apostar em relações de sentido, tudo para que ele se represente como sujeito desejante. O manejo da transferência (por aquele que escuta) determina um lugar em que volta (para aquele que fala) outro sentido de seu discurso.

A transferência então se estabelece quando da sustentação de um diálogo do analisando, surge o sujeito que deseja e institui o analista no lugar da causa de seu sintoma. E no falar sobre o mal estar, quanto mais o sujeito explica a sua causa, mais aquele que escuta torna-se o Outro do sintoma, então instalado na posição de sujeito suposto saber. O psicanalista assume um lugar de saber, lugar que conseguirá a atualização da presença do sujeito. O estabelecimento da transferência se faz necessário para a intervenção do analista e seu trabalho consiste no seu manejo: Na psicanálise, o sujeito ganha saber pela suposição de um saber de um outro que tão pouco sabe. Ganha saber transferindo afeto para a pessoa do analista, afeto referente aos modelos infantis que se repetem quando o sujeito se presentifica. E então nessa posição, com a produção de significações, havendo-se com o verdadeiro, se dirige a verdade.

Um comentário:

  1. Ter a possibilidade da escolha é um exercício de poder. Uma análise deve criar condições de suspender o recalque para se saber de desejos infantis. Mas, o que o analisante irá fazer desta descoberta? A partir daqui, a ele é dado o benefício da escolha, o poder da escolha.

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